DETERIORAÇÃO DO PESCADO
E
aí, galera!?
Em
nossas postagens passadas já falamos sobre a diferença entre a carne do pescado
e a carne vermelha, peixes reimosos, ômega 3, câncer de pele no pescador e
protetor solar, resíduos de peixes e também sobre a contaminação de peixes com
o mercúrio. Hoje vamos abordar um pouco sobre o processo de deterioração do
pescado.
Entre
os produtos de origem animal, o pescado é o mais suscetível à deterioração
devido a vários fatores intrínsecos e extrínsecos. Entre os fatores
intrínsecos, apresentam maior relevância: a elevada atividade de água dos
tecidos, o teor elevado de nutrientes que podem facilmente ser utilizados pelos
micro-organismos, a rápida ação destrutiva das enzimas naturais presentes nos
tecidos, a alta taxa de atividade metabólica da microbiota, a grande quantidade
de lipídeos insaturados e pH próximos à neutralidade. O fator extrínseco
principal é a manipulação do pescado que é fundamental na qualidade do mesmo.
Vamos
falar um pouco sobre a ação desses fatores.
MANIPULAÇÃO DO PESCADO
O
modo de captura pode influenciar na qualidade do pescado, pois se ele se debate
muito tentando se libertar da rede ou morre em agonia nos barcos, a sua reserva
de glicogênio se esgota e ocorre o rigor mortis mais rapidamente. Três
princípios básicos devem ser seguidos: resfriar imediatamente, evitar abusos de
temperatura e manter elevado o grau de limpeza tanto na cobertura como no porão
do barco. A evisceração e a lavagem
constituem outras operações que exigem cuidados durante a manipulação.
Rigor mortis
Rigor
mortis significa o enrijecimento do músculo como resultado do esgotamento de
trifosfato de adenosina (ATP). Após a morte do pescado, os compostos orgânicos da
carne se hidrolisam. O glicogênio é o composto que se hidrolisa mais rapidamente,
provocando acúmulo de ácido lático no músculo e reduzindo o pH. Este evento é
resultado de reações bioquímicas
complexas
no músculo, ocorrendo do seguinte modo: após a morte do peixe por asfixia,
cessa a entrada de O2, e os produtos metabólicos não oxidados no sangue e nos
músculos paralisam o sistema nervoso. Ocorrem a hiperemia e a liberação de
muco. Neste momento, o peixe está em pré-rigor, fase que dura de 1 a 2 horas,
tendo o glicogênio como fonte de energia e o ATP combinado com a miosina, o que
confere ao peixe uma carne branda com pH médio de 7,0. O ATP presente é usado
para liberar energia, transformando-se em ADP (adenosina difosfato). Em
seguida, há redução total do ATP. É liberada a miosina que estava combinada com
o ATP. Aparece o ácido láctico formado a partir da degradação do glicogênio.
Este é o ponto de passagem do pré-rigor para o rigor manipulação, tamanho e condições
físicas do pescado. Ao terminar essa fase, têm início as fases de deterioração por
autólise e bacteriana.
AUTÓLISE
Autólise
é o processo de hidrólise das proteínas e gorduras do pescado devido à ação das
enzimas proteolíticas e lipolíticas. Esse processo contribui para perda da
qualidade do peixe fresco, mas é pouco significativa no refrigerado.
A
autólise é um processo decorrente de duas ações principais:
§ Ação
dos sucos digestivos: sua natureza ácida junto com as enzimas proteolíticas
atravessam a parede gástrica e provocam a decomposição do músculo, além de
contribuir para disseminação de microrganismos decompositores;
§ Ação
das enzimas dos tecidos: “amolecem a carne” deixandoo caminho livre para ação
de microganismos;
DECOMPOSIÇÃO BACTERIANA
A
ação das bactérias é um dos principais fatores para a decomposição da carne, em
sua maioria apresentando ações proteolíticas e lipolíticas. As reações que elas
provocam são em grande parte responsável pelo odor desagradável da carne podre.
A ação microbiana no pós-morte se deve a
ausência de defesas naturais contra a penetração de micro-organismos na carne,
o que existia enquanto músculo. Essas
bactérias consistem principalmente de bastonetes gram-negativos não
esporulados.
No
peixe, a parte mais suscetível à ação desses micro-organismos são as brânquias.
O processo e a natureza da decomposição bacteriana dependem da composição da
microbiota, da oxidação aeróbia ou de processos de redução aeróbia. Os
principais produtos finais da decomposição bacteriana são: substâncias
inorgânicas, hidrogênio, CO2, amoníaco, compostos sufurados, H2S e mercaptanos;
ácidos graxos de cadeia, ácidos aromáticos, bases orgânicas, incluindo as mais
simples monoaminas, monoaminas cíclicas e diaminas. As principais alterações
nos compostos nitrogenados não proteicos são: redução do óxido de trimetilamina
(OTMA) a trimetilamina (TMA), descarboxilação da histidina em histamina e
decomposição da ureia com liberação de amônia.
OXIDAÇÃO LIPÍDICA
A
oxidação dos lipídios se dá pela perda de elétrons devido à transferência
destes de uma substância a outra. Essa reação é causada principalmente pelo
oxigênio atmosférico. A oxidação lipídica leva à formação de radicais livres,
promovendo alterações de diversas propriedades, principalmente as sensoriais
(sabor, aroma, textura e cor).
A
velocidade da oxidação depende do grau de insaturação dos ácidos graxos. Quanto
mais insaturados, mais suscetíveis à oxidação eles estão. O pescado possui
grande número de ácidos graxos insaturados, por isso é mais suscetível às
mudanças de sabor, cor, cheiro e textura, como falado acima, que as outras
carnes, tornando-se rançoso.
Então
é isso pessoal! Mais cuidado quando for pescar, comprar e armazenar os pescados
ou você pode ter uma surpresa não muito agradável horas ou dias depois...
Até
a próxima! J
Referência:
SOARES,
Karoline Mikaelle de Paiva; GONÇALVES, Alex Augusto. Qualidade e segurança do
pescado. Revista do Instituto Adolfo Lutz (Impresso), v. 71, n. 1,
p. 1-10, 2012.