segunda-feira, 11 de maio de 2015

E quem disse que peixe morto não serve pra nada?

Olá, leitores! Como vocês estão? Vamos falar um pouquinho sobre a reutilização dos resíduos dos peixes? (:

          Peixes mortos, fauna acompanhante de pesca marítima, cabeça, pele, espinhas e vísceras de indústrias de processamento, são, muitas vezes, considerados matéria-prima de baixa qualidade e, quando não utilizados, causam problemas ao meio ambiente trazendo prejuízos ecológicos, sanitários e econômicos. Entretanto, a silagem, produto final de um processo de fermentação controlada, é uma solução efetiva para este problema!
          Esse processo resulta num produto nobre, de alto valor biológico na nutrição animal, capaz de trazer um incentivo econômico importante às indústrias e aos aquicultores que os produzem, além de poder ser incorporado à ração comercial. A silagem é o processo de fermentação onde os elementos orgânicos presentes nos resíduos dos pescados (açúcares, proteínas, aminoácidos, compostos nitrogenados e nucleotídeos) vão constituir o substrato sobre o qual vão atuar os microorganismos, que os convertem em moléculas mais simples para utilizá-las como fonte de energia para sua sobrevivência.
       Os métodos de fermentação têm sido utilizados há muito tempo para conservar ou utilizar excedentes de matéria-prima ou para reutilizar os desperdícios orgânicos. Entre eles podemos destacar:
- Uso de altas concentrações de sal (15 a 20% de sal no produto final), com o inconveniente do alto conteúdo de sal limitar a ingestão das proteínas;
- Uso de ácidos inorgânicos, como o ácido acético e clorídrico, com as desvantagens de exigir manipulação cuidadosa desses ácidos. Nesse método de fermentação é necessário neutralizar o produto final com cal antes de utilizá-lo para a alimentação de animais. Além disso, existe a produção de grandes quantidades de líquidos ácidos durante o processo;
- Uso de ácidos orgânicos, como os ácidos fosfórico, fórmico e propiônico. Pode-se efetuar combinações destes ácidos orgânicos com ácidos inorgânicos em menores proporções. Permanece aqui também a dificuldade de manipulação desses ácidos;
- Uso de enzimas, como a papaína ou bromelina, obtidas do mamão e do abacaxi;
- Uso de bactérias ou leveduras, originando a Silagem Biológica. As bactérias mais utilizadas são as do grupo ácido láticas Lactobacillus e Lactococcus; leveduras do gênero Hansenula e Saccharomyces e fungos Aspergillus oryzae.
          A preservação do pescado mediante o método de silagem biológica (fácil de preparar, ausente de riscos de acidentes ou toxidade e com baixo custo), depende da formação de ácido lático e, para que tenha êxito, é preciso favorecer o predomínio de bactérias Homofermentativas (lactobacilos que produzem duas moléculas de ácido lático e uma molécula de glicose). Estas bactérias não se encontram em grande número no pescado ou no meio aquático, sendo necessário agregar um inóculo iniciador de lactobacilos para favorecer sua multiplicação. Existem muitas maneiras de se agregar inóculo de lactobacilos, podendo-se partir de vegetais fermentados em anaerobiose, produtos marinados, etc., dos quais se obtém cepas de lactobacilos capazes de efetuar a fermentação dos açúcares. Outras fontes são os produtos lácteos, dos quais o mais utilizado é o iogurte, onde se desenvolvem os Lactobacillus bulgaricus e Streptococcus thermofilus. As bactérias láticas são produtoras de várias substâncias que são favoráveis para o processo de silagem:
- secreção de antibióticos que impedem o crescimento de outros germes patógenos e putrefativos como salmonela, listéria, estafilococos e clostridium. A diminuição do pH a valores de 4,2 ou menores, combinados com a ação dos antibióticos, exerce uma redução radical destes microorganismos;
- peróxido de hidrogênio, efetivo para inibir o crescimento de patógenos Pseudomonas e Staphylococcus aureus,
- Diacetilo, responsável pelo aroma agradável da silagem (frutal) e inibidor de fungos, bactérias gram negativas e positivas (exceto as láticas).
         Uma vez produzida a fermentação lática, o produto tende a estabilizar-se no Ph (entre 3,9 e 4,7) e incrementar-se na acidez lática. Deve ser armazenado em recipientes fechados, à temperatura ambiente, por até 6 meses. A composição e o valor nutritivo da silagem dependem principalmente do resíduo, do tipo de açúcar e das características do inóculo bacteriano utilizados.

         A incorporação de silagem de pescado fabricada artesanalmente à rações comerciais é uma prática que tem sido realizada com ótimos resultados! Vale ressaltar que a silagem de resíduo de pescado não pretende igualar-se à farinha de peixe. O que se busca é uma alternativa viável e racional para os resíduos de pescado, visando a diminuição de impactos ambientais, ao mesmo tempo em que se pode melhorar a qualidade e o preço das rações.


Até a próxima, pessoal! (:




Referência: MACHADO, Thaís Moron. Silagem biológica de pescado. Panorama da aqüicultura, v. 8, n. 47, p. 30-32, 1998.

7 comentários:

  1. GRUPO M:
    Como exposto da postagem, “silagem é o processo de fermentação onde os elementos orgânicos presentes nos resíduos dos pescados vão constituir o substrato sobre o qual vão atuar os microrganismos”, é importante destacar que os efeitos desses microrganismos dependem da natureza do processo e do seu tempo de realização. Vale ressaltar ainda a importância da atuação de enzimas nesse processo, que são liberadas pela ruptura celular, fazendo com que proteínas sejam quebradas em compostos como peptídeos e aminoácidos livres e carboidratos em açúcares simples, ou seja, a ruptura das células fornece substrato para o crescimento de microrganismos que atuarão na fermentação. Sobre outros fins que se pode ter, muito se utiliza ainda resíduos de peixe para a fabricação de biodiesel, o óleo de peixe apresenta grande potencial para ser utilizado como substrato nesse processo, não só devido à sua composição lipídica, rica em ácidos graxos de cadeia longa (Gunstone et al., 1994), mas também por se tratar de uma matéria-prima abundante no Brasil.

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  2. As bactérias ácido láticas, citadas no post, possuem metabolismo energético fermentativo. E as principais fontes de energia dessas bactérias são os carboidratos solúveis e certos ácidos orgânicos. Para que a fermentação biológica ocorra, é necessário que as bactérias láticas convertam os açúcares presentes em ácidos orgânicos, fazendo com que o pH do meio diminua. Como os peixes contêm somente uma pequena quantidade de carboidratos, é preciso agregar quantidades maiores de outros carboidratos como fonte de energia. O uso da sacarose e/ou do melaço como fontes de energia para as bactérias láticas garante uma eficiente fermentação nos resíduos de peixes.

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  3. Grupo D

    Muito bom, conseguir reduzir a contaminação por resíduos não funcionais para consumo, através da silagem. Incrível ele ser reutilizado como ração. Uma enzima muito importante que foi citada no texto é a papaína e a bromelina, essas enzimas tem função proteolíticas, que é quebrar as ligações entre os aminoácidos da cadeia proteica. A ligação entre dois aminoácidos em uma macromolécula de proteína é denominada ligação peptídica e se estabelece sempre entre um átomo de hidrogênio (-H) perdido pelo grupo amina de um aminoácido e uma hidroxila (-OH) perdida pelo grupo carboxila de outro, formando uma molécula de água (reação de condensação ou síntese por desidratação). Como vimos, além de bacteris as enzimas tambem tem papael chave na formação da silagem. Valeu galera!!! até outro post.
    Referência:
    http://www.infoescola.com/bioquimica/proteolise/ Acessado em 15/05/2015.

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  4. Grupo H
    Muito interessante e curioso esse processo. Utilizar a silagem de resíduos do filetamento de tilápia, juntamente com frutas tropicais, na proporção de até 30%, em rações para alevinos promove melhores resultados econômicos, reduzindo o custo com alimentação por quilo de peixe produzido, além de aumentar a qualidade da ração produzida. A silagem produzida por processamento artesanal apresenta elevados valores de aminoácidos essenciais para peixes, como lisina (5,54 g/kg), histidina (5,33 g/kg) e ácido glutâmico (6,04 g/kg), tornando-a excelente alternativa, por agregar valor ao biolixo proveniente dos resíduos sólidos do pescado. A silagem também pode ser útil como adubo orgânico pela riqueza de nutrientes resultantes da presença de escamas, peles, couros, espinhas, colágeno, sangue, gordura, bexigas natatórias, gônadas, olhos, cérebros, fígados, enzimas digestivas e carotenóides.

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  5. Grupo C
    Sobre a comparação entre a farinha de peixe e a silagem, encontrei um artigo bastante interessante. O autor () afirma que a silagem pode substituir sim a farinha de peixe na formulação de rações, já que reduz a necessidade de mistura com premix mineral e outros componentes, como aa, vitaminas e ácidos graxos. a silagem contém inclusive, uma pequena quantidade de ácidos polinsaturados que contribuem para a prevenção da oxidação lipídica.
    A silagem produzida por método artesanal possui elevados valores de aminoácidos essenciais para peixes como lisina, histidina e ácido glutâmico.
    Além disso ela pode ser utilizada também como adubo orgânico, devido à riqueza de nutrientes.
    Aguardando a próxima postagem!

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    1. Ops! Esqueci da referência...
      Lá vai :CARVALHO, Gleidson Giordano Pinto de et al . Silagem de resíduo de peixes em dietas para alevinos de tilápia-do-nilo. R. Bras. Zootec., Viçosa , v. 35, n. 1, p. 126-130, Feb. 2006 . Available from . access on 18 May 2015. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-35982006000100016.

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    2. Ops! Esqueci da referência...
      Lá vai :CARVALHO, Gleidson Giordano Pinto de et al . Silagem de resíduo de peixes em dietas para alevinos de tilápia-do-nilo. R. Bras. Zootec., Viçosa , v. 35, n. 1, p. 126-130, Feb. 2006 . Available from . access on 18 May 2015. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-35982006000100016.

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