EXPOSIÇÃO AO SOL E CÂNCER DE PELE NO PESCADOR
Olá pessoal! O nosso post dessa semana vai discutir uma temática bem relevante e que está presente de forma frequente no dia a dia do pescador: a ampla exposição aos raios solares e as consequentes alterações na bioquímica da pele, com destaque para o câncer de pele.
A radiação proveniente do sol apresenta efeitos benéficos para a saúde. Esta estimula a produção da vitamina D3(colecalciferol), está envolvida no metabolismo ósseo e no funcionamento do sistema imunológico e é utilizada no tratamento de doenças de pele como psoríase e vitiligo. Entretanto, a exposição excessiva ao sol em horários de alta incidência, continuamente e ao longo de muitos, seja por questões de lazer ou de trabalho como no caso dos pescadores, está diretamente ligada ao desenvolvimento de câncer, sobretudo o de pele.
A radiação solar é composta por espectro contínuo de radiação eletromagnética que apresenta divisão e denominação em concordância com o intervalo de comprimento de onda (λ). No processo de ocasionamento do câncer o que merece atenção é a radiação UV. Esta é dividida em três tipos de acordo com a amplitude de onda:
· UV-A: emissões de 315-400 nm, constituem 98,7% da radiação ultravioleta que chega à superfície da Terra. Este tipo de radiação é um dos principais produtores de radicais livres, podem alterar as células em longo prazo e desencadear:
ü Interação direta com o DNA, produzindo mutações nos dímeros de pirimidina que estão associadas ao câncer de pele;
ü Fotoenvelhecimento (modificação da orientação das fibras de elastina e de colágeno, provocando o relaxamento e a perda de firmeza da pele e o aparecimento de rugas);
ü Intolerâncias solares: normalmente designadas por alergias solares (vermelhidão, prurido)
ü Desordens pigmentares (cloasma, manchas pigmentadas)
· UV-B: emissões de 280-315 nm ,depende do ângulo do sol e da cobertura de nuvens. São responsáveis pelo bronzeado, pelas queimaduras (golpes de sol/escaldões), bem como pelas reações alérgicas e cancros cutâneos.
· UV-C: emissões de 200-280 nm, considerada letal, é normalmente absorvida de forma completa pelo oxigênio (independe da espessura da camada de ozônio).
RADIAÇÃO ULTRAVIOLETA NO DIA A DIA DO PESCADOR E O CÂNCER DE PELE
No Brasil, o câncer mais frequente é o de pele, correspondendo a cerca de 25% de todos os tumores diagnosticados em todas as regiões geográficas segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA). Alguns aspectos relacionados a fatores fenotípicos, como o tipo de pele, cor dos olhos e cabelo, tendência ao bronzeamento, queimaduras e sardas, juntamente com a história pessoal e/ou familiar de câncer de pele e a diminuição da capacidade de reparo do DNA, também são fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de pele (NORA; RAWASHDEH, 2004). Entretanto, exposição à radiação ultravioleta é a mais fortemente associada com o risco de desenvolver câncer da pele e essa tal exposição ocorre diariamente na rotina de trabalho dos pescadores. Os raios UV, em especial a UVB, além de facilitarem mutações gênicas, exercem efeito supressor no sistema imune cutâneo.
→ Como a radiação altera a pele e provoca o câncer?
A radiação UV é absorvida por diversos cromóforos na pele, tais como: melanina, DNA, RNA, proteínas, aminoácidos aromáticos, como a tirosina e o triptofano, ácido urocânico, entre outros. A absorção da radiação UV pelos cromóforos gera reações fotoquímicas diferentes e interações secundárias, envolvendo espécies reativas do oxigênio, que resulta em efeitos prejudiciais quando da exposição em excesso.
O DNA é um dos principais alvos da radiação UV. As pirimidinas sofrem modificações fotoquímicas, resultando em dímeros de ciclobutano e demais subprodutos que são reparados, fisiologicamente, por enzimas específicas. ABC excinuclease, DNA polimerase I e DNA ligase são exemplos de enzimas que participam do sistema de reparo do DNA. Este sistema é eficaz; entretanto, o excesso de exposição solar pode tornar a reparação menos eficiente. Assim, ocorre a iniciação do processo cancerígeno, no qual células normais de um determinado órgão ou tecido são convertidas em células com potencial para tornarem-se tumor.
Esse câncer de pele pode dividido em duas categorias basicamente, o câncer de pele do tipo não-melanoma (CPNM) e o do tipo melanoma cutâneo (MC). O melanoma cutâneo (MC) é o câncer de pior prognostico devido ao seu alto potencial de produzir metástases com rapidez. O diagnóstico precoce é muito importante, já que a maioria dos casos detectados no início apresenta bons índices de cura.
Assim, é preciso atuar na geração de informação a respeito do assunto, principalmente para esse grupo de trabalhadores que está exposto ao risco ainda maior levando em consideração sua rotina de trabalho. Promover a prevenção do câncer de pele como também de outras lesões provocadas pelos raios UV é necessário, conscientizando sobre evitar exposição ao sol sem fotoproteção, incentivando o uso de chapéus, óculos escuro e filtros solares durantes as atividades de pesca, tentar evitar exposição ao sol em que os raios ultravioletas são mais intensos (10 às 16 horas) e realizar o autoexame da pele regularmente.
Espero que tenham gostado e até a próxima!
REFERÊNCIAS:
ALVES, Rayanne Stefhanie. Ocorrência e percepção de câncer de pele entre pescadores profissionais em Cáceres, Mato Grosso. Cáceres/MT; dezembro, 2013.
Instituto Nacional do Câncer http://www1.inca.gov.br/conteudo_view.asp?id=21
BALOGH, Tatiana Santana et al. Proteção à radiação ultravioleta: recursos disponíveis na atualidade em fotoproteção. An. Bras. Dermatol. [online]. 2011, vol.86, n.4, pp. 732-742. ISSN 0365-0596. http://dx.doi.org/10.1590/S0365-05962011000400016.